quinta-feira, 28 de junho de 2012

Doce Branco.

      Tem tantas coisas que eu não sei sobre as pessoas que amo, e entre elas, o quanto sabem sobre mim. Acho que eles não sabem a respeito do Lugar. Como é que iam saber? Nunca contei isso para ninguém. Não tem nome na minha mente além de Lugar: não envolve ritual nem fórmula nem nada. É um local para refletir a respeito das coisas. Nenhum homem conhece de fato os outros seres humanos. O máximo que pode fazer é supor que são como eles mesmos. Ali, sentado no Lugar, protegido do vento, observando a maré se esgueirar por sob a iluminação das bóias, negra por causa do ceú escuro, fiquei imaginando se todos os homens tinham um Lugar, ou se precisam de um Lugar, ou se desejam ter um e não têm. Por vezes, enxerguei um brilho nos olhos de outros, um olhar de animal acossado, de quem precisa um lugar calmo e secreto onde as aflições da alma podem se abrandar, onde o homem se sente inteiro e é capaz de fazer levantamento. Algumas pessoas podem chamar de oração, e talvez seja a mesma coisa. Mas eu não acho que seja. Se eu desejasse criar uma imagem disso para mim mesmo, seria um lençol úmido dando cambalhotas devido a um vento agradável que o seca e o deixa de um branco dos mais doces. O que acontece é o certo para mim, seja bom ou não.

     Dos assuntos que domino estão por vezes ideias, e somente estas, sabem quem realmente sou. Acredito saber muito de tudo no mundo. Como se sabe tanta coisa? Sempre duvido de todos. Ninguém senão minha credulidade escapa de meu próprio ceticismo. É o filtro que protege das alienações. O minímo é submeter para ser obedecido. Lá, deitado na vida, queimando na floresta sob a escuridão de vaga-lumes que não brilham não pensam, viciados em feixes de luzes estranhas, quando os próprios animais têm, ou ignoram que precisam da própria luz ou vangloriam-se com pisca-piscas mal elaborados. Reflito ante inúmeros instantes que delatam o nosso andar de cavalo manco sedento por um misero pedaço de capim, ainda imagino como se sentiriam ao perceber que controlando impulsos e cooperando encontrariam um pasto, o campo infinito para correr apenas de si mesmo.  Eu acredito ser fundamental o constante encontro da sombra e seu dono. Eu não precisaria criar nenhuma imagem semelhante pelo simples fato de isto ser real. Se você se olhar no espelho...

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