Não é nenhuma novidade saber que a escola apresenta-se, hoje, como uma das instituições sociais mais criticadas do país. Delegou-se às escolas a missão de transmitir cultura e, com ela, valores sociais e morais para as crianças e jovens do nosso Brasil. Pode-se dizer que é uma criação social do homem, que tem como objetivo central fazer com que os pequeninos deixem os comportamentos dos pais e adotem os ideais da sociedade como modelo de vida, aumentando sua dependência ao grupo social.
Em comunidades primitivas educar não estava associado a nenhuma instituição e, com liberdade, família e meio social incumbiam-se de ensinar através da experiência (conhecimento empírico). A Ciência argumenta que a partir do século V d.C. a educação criou um laço dependente à escola e indivíduos específicos transmitiam o saber em espaços reservados para tal atividade. Contudo, poucos iam à escola, pois esta era destinada às elites. A educação transmitida na Idade Média era estritamente ligada ao contexto a qual sua sociedade vivia (algo muito semelhante ao que acontece em países comunistas e ditatoriais em pleno século XXI). Logo, a cultura da aristocracia e os conhecimentos religiosos eram a base de toda informação, havendo pouco ou nenhum espaço para divergências e questionamentos. Todavia, esse privilégio rompeu-se parcialmente com a revolução industrial no século XIX.
O desenvolvimento da industrialização trouxe a necessidade de levar o trabalho para fora de casa, isto é, cada um conquistou seu espaço individual (lar) e ganhou um coletivo (fábrica). Assim, desenvolveu-se não só a estrutura educacional como a familiar, que não podia mais preparar sozinha seus filhos para tal ambiente social. Nesse momento, a escola tornou-se uma instituição especializada, já que a industrialização levou à sofisticação tecnológica, requerendo um saber cada vez mais especializado. A consequência dessa renovação deixou o controle educacional nas mãos das fábricas (patrões) que, após longas lutas e pressões, cederam a tão almejada universalização escolar exigida pela classe trabalhadora.
Perceber que a escola torna-se a mais moderna e ampla relação entre criança e sociedade é captar a essência social do fator educação. Entretanto, como um ideal tão perfeito apresenta inúmeros problemas? Certa vez, o naturalista Charles Darwin (Origem das Espécies) disse: "Enquanto meio de educação, a escola para mim foi um simples vazio". Provavelmente, o pai da Teoria da Evolução encontrou divergências no aspecto teórico e prático, ou seja, conflitos nas concepções pedagógicas e na realidade cotidiana. Pode-se dizer que Darwin notou aquilo que chamamos de "desvio escolar", a ilusão de ensinar isoladamente o aluno a viver na sociedade, quando o mesmo já vive na sociedade. É fácil presumir que a escola não reconheça seus próprios erros e, ainda culpa seus alunos pelo fracasso que é basicamente explicado pelo mal desempenho do aluno.
Por muito tempo a grande dúvida pedagógica era, ensinar a resposta aos alunos sem que eles tenham feito as perguntas, ou estimular as perguntas e menosprezar a importância de se obter respostas? A função da escola é reconhecer o saber através de cursos e diplomas, que serão passaportes para a vida social. Mas, para serve este conhecimento? Esta é a pergunta que fica. A escola deve ensinar e estimular os alunos não só a perguntar, mas a valorizar a resposta. O famoso físico Albert Eistein desenvolveu inúmeras teorias e algumas de suas percepções serviram de base para outras (teoria quântica), entretanto, há um pensamento muito simples e curioso desse cientista que cai como uma luva para o assunto abordado, eis aqui: "Se eu tivesse uma hora para resolver um problema e minha vida dependesse dessa solução, eu passaria 55 minutos definindo a pergunta certa a se fazer. Porque quando eu soubesse a pergunta correta, poderia resolver o problema em menos de cinco minutos".
É preciso injetar realidade na escola. A vida escolar deve estar articulada com a vida social de modo que, a família seja responsável pela construção moral de seus filhos, sendo o alfabetizar apenas um processo que capacita a integração social do individuo. Os professores são a ferramenta da educação na escola, assim, é de suma importância compreendermos a correlação que estabelecem com os alunos, sendo este o processo que sustenta a vida escolar. Ignorar as diferenças é trabalhar para aprofundá-las. Alguns pensadores acreditam que a escola é um aparelho ideológico do Estado com a finalidade de reproduzir a mão-de-obra submissa e a ideologia dominante.
Na prática a escola é um local de troca, de absorção de informação e de aprendizado da investigação. É o local comum em que podemos adquirir a ideia do tempo histórico e da transformação que a humanidade produziu. É uma das várias instituições existentes na sociedade, logo, ela não pode ser considerada a única responsável pela submissão e reprodução dos valores dominantes. As transformações sociais ocorrem de forma mais ampla, abrangendo outras instituições sociais, como os meios de comunicação de massa, o Congresso Nacional e as leis.
Nada nasce pronto. Tudo se modifica ao longo do tempo e, se tratando de escola esta se transforma através da prática social - que nós também fazemos parte - resultando num sistema complexo. Todo o trabalho desta instituição social deve estar voltado para a realidade e não controlado pela parte popular que retém o poder da sociedade. Piaget, um importante pensador do século XX, dizia que: "A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe."
É natural existir certa discrepância entre teoria e práxis político-educacionais, todavia deve-se perceber qual é a intenção de uma política educacional, esta pode ser clara e visível ou então obscura e camuflada. Consequentemente, encontraremos outro aspecto - senão o mais importante - o poder. Em contextos autoritários é normal predominar uma política idealista e unilateral, no entanto nossa cultura é democrática e, de certo modo (ínfimo), participamos das decisões políticas do Brasil. Portanto pare de berrar aos quatro ventos, deixe de lado o seu papel de vítima político-social e agradeça por ter o direito de manifestar sua opinião.
Em vista dos argumentos apresentados, concluirei o texto com esta citação do renomado educador brasileiro Paulo Freire: "Uma das condições necessárias para que nos tornemos um intelectual que não teme a mudança é a percepção e a aceitação de que não há vida na imobilidade. De que não há progresso na estagnação. De que, se sou, na verdade, social e politicamente responsável, não posso me acomodar às estruturas injustas da sociedade. Não posso, traindo a vida, bendizê-las. Ninguém nasce feito. Vamos nos fazendo aos poucos na prática social de que tomamos parte.".